quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Eu vou pra Maracangalha - por Salvatore Santagada


Eu saí da Itália, rumo à cidade de Porto Alegre, com quase seis anos, em dezembro de 1956, acompanhado de meu tio Giacinto, minha mãe Ida Maria e de minha irmã Valéria, de dois anos, para nos juntarmos ao meu pai, Luigi, que viera da Calábria no ano anterior. Chegando na rua São Joaquim, no bairro Glória, onde estava localizado o Açougue Internacional, lugar onde iria residir, ao lado do Armazém Flôr da Zona, ouvi pela primeira vez a música "Maracangalha" pelo rádio do armazém. A canção "Maracangalha" representava e ainda continua representando uma forma jovial, leve e radiante de ser do brasileiro. Isso foi marcante no deslumbramento sempre renovado do menino, que gostava de cantar as cançonetas napolitanas, sobre o País que lhe acolheu. Foi um acontecimento inesquecível, pois, até hoje, essa música está impregnada no meu "sangue brasileiro". Em 2004, na presidência do Sindicato dos Sociólogos do RS, propus a Diretoria comemorar no dia 30 de abril, com uma roda de samba, o nascimento do compositor Dorival Caymmi, o que vem sendo realizado todos os anos. Luto a cada dia para que a "utopia" de "Maracangalha" faça parte de todos os lares nacionais. O País que abriu suas portas aos estrangeiros, deve ser capaz de construir nos trópicos a felicidade e a cidadania para toda sua gente, e fazer acontecer nas palavras do poeta franco-suiço Blaise Cendrars, que identificava o novo país com a "Utopialand" (Terra da Utopia), e entusiasmado afirmava: "O Brasil, onde o simples fato de existir é uma felicidade".
"Eu vou pra Maracangalha, eu vou
Eu vou de 'liforme branco', eu vou
Eu vou de chapéu de palha, eu vou
Eu vou convidar Anália, eu vou"


Dorival Caymmi morre aos 94 anos no Rio
Por Cristiane Ribeiro


RIO DE JANEIRO (Agência Brasil), 16 de agosto - O compositor e cantor baiano Dorival Caymmi morreu neste sábado, no Rio de Janeiro, aos 94 anos. Dorival se tratava de um câncer na bexiga há onze anos e morreu de insuficiência renal por volta das 6h, em sua casa, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro.

Em 60 anos de carreira, Caymmi compõs sobre os hábitos, costumes e tradições do povo baiano. Em suas canções demonstrava sua adoração pelo mar e pela natureza. Ele gravou mais de 20 discos.

O filho, Danilo Caymmi, deu à Rádio Nacional do Rio de Janeiro a primeira entrevista sobre a morte do pai, no programa da radialista Dayse Lucidi. Segundo ele, a família "tem uma gratidão muito grande à Rádio Nacional, porque foi num show de calouros da emissora que Dorival Caymmi conheceu a mulher e companheira de toda a vida".

Segundo Danilo, a mãe, Stela Maris, está internada há três meses, em coma. "A família atravessa um momento muito difícil, mas não poderia deixar de falar à Rádio Nacional, em primeira mão, sobre o falecimento de meu pai. Ele morreu tranquilamente, baianamente, como ele dizia", disse Danilo.

Ainda de acordo com Danilo Caymmi, o horário e local do velório e sepultamento ainda não foram decididos. Ele disse que vai aguardar a chegada do irmão, Dori Caymmi, que mora no exterior, e que ainda não havia conversado com a irmã Nana Caymmi.

Entre as composições de Dorival Caymmi, as mais marcantes são "A Lenda do Abaeté", "Promessa de Pescador", "É Doce Morrer no Mar", "Marina", "Não Tem Solução", "Maracangalha", "Saudade de Itapoã", "Samba da Minha Terra", "Dora", "Rosa Morena" e "Eu Não Tenho Onde Morar".



Buda Nagô - Gilberto Gil

Dorival é ím-par
Dorival é par
Dorival é ter-ra
Dorival é mar
Dorival tá no pé
Dorival tá na mão
Dorival tá no céu
Dorival tá no chão
Dorival é be-lo
Dorival é bom
Dorival é tu-do
Que estiver no tom
Dorival vai can-tar
Dorival em C-D
Dorival vai sam-bar
Dorival na T-V
Dorival é um Buda nagô
Filho da casa re-al da inspiração
Como príncipe, principiou
A nova idade de ouro da canção
Mas um dia Xan-gô
Deu-lhe a i-lumina-ção
Lá na beira do mar (foi?)
Na praia de Arma-ção (foi não)
Lá no Jardim de A-lá (foi?)
Lá no alto ser-tão (foi não)
Lá na mesa de um bar (foi?)
Dentro do cora-ção
Dorival é E - va
Dorival Adão
Dorival é li-ma
Dorival é limão
Dorival é mãe
Dorival é pai
Dorival é o pe-ão
Balança, mas não cai
Dorival é um monge chinês
Nascido na Roma negra, Salvador
Se é que ele fez for-tuna, ele a fez
Apostando tudo na carta do amor
Ases, damas e reis
Ele teve e pas-sou (iaiá)
Teve o mundo aos seus pés (ioiô)
Ele viu, nem li-gou (iaiá)
Seguidores fi-éis (ioiô)
E ele se adian-tou (iaiá)
Só levou seus pin-céis (ioiô)
A viola e uma flor
Dorival é ín-dio
Desse que anda nu
Que bebe gara-pa
Que come beiju
Dorival no Ja-pão
Dorival samu-rai
Dorival é a na-ção
___________
Aos amigos do Núcleo da Canção, uma singela homenagem pela perda do Dorival que é mãe, pai e buda Nagô. "Dorival é a na-ção" brasileira.
Abraço,
Salvatore Santagada

2 comentários:

Guto Leite disse...

Assino abaixo... dá pra compor como Chico, dá pra compor como Gil, como Dorival não dá!
Abraço a todos.

Anônimo disse...

Entendo que Dorival deu múltiplas contribuições à canção brasileira, porém duas especilamente sempre me "saltam" aos ouvidos: a capacidade única de sintetizar o simples sem "forçar a barra", tão simples como sempre foi a sua vida; e a ambientação musical como reforço expressivo ao tema abordado na canção, ou seja, sua ambientação musical mimetizou sempre a temática de suas canções a tal ponto de formar uma unidade singular fortíssima. Neste sentido este fazer musical, cancional é uma grande referência, um norte a quem se propõe a simplesmente fazer canções. Salve Buda Nagô!